7 de fevereiro de 1976

Sagração da Primavera

*

Sombras verdes irão me perseguir
E não sei o que farei.
Ouvi teus gritos, mas o medo me paralisou.
E ao teu encontro não pude ir. Que fazer?
O verde é puro como o cheiro das flores
E teu corpo velho é como é como se estivesses doente.
Teus olhos gritam e pedem alimento. Que fazer?
Subirei aos céus até te alcançar;
E quando isso fizer te abraçarei e serei feliz.
FIZ
E o que te incomodou?
Meu corpo agora remoído e dolorido espera teu sorriso.
E tu ris!
Não te ouvia, agora ouço.
Não te via, agora vejo.
Te sentia, agora não.
De mim te afastaste; de medo? Talvez!
E agora, triste donde estou
Te vejo e te amo.
Te ouço e não te posso ter.
Balances teus braços
Como se quisesses me abraçar.
Pois ainda mais te desejo.
Teus filhos serão devorados, e tu,
Chorarás. E eu também.
Um dia cortarão teus braços e pernas.
E eu estarei presente. E terei de deixar,
Nada farei até que tu pereças e eu grave em teu epitáfio:
“Aqui jaz minha grande amiga Goiabeira”

Rosária Cid

26 de janeiro de 1976

Passagem

*
Parte I
Por seguidas tardes inertes,
Fiquei pensando em te exaltar;
Mas tu para isto nada fazias.
E cada vez mais te encorajava.
Passaram-se horas e com elas
Meus pensamentos.
Que fazer depois:
Da janela a olhar vazio
Nada encontrava, senão o nada.
E dentre todas as minhas ações
A de nada fazer pereceu.
E trépidos aplausos confundiram-me.
E tu? Que fazias?
Arrefecias a flor que te havia dado.
E calado permanecias.
Nem um gemido
Nem uma esperança
Não calefazias minhas mãos
Nem meus sentimentos
E num ato sem efeito
Morre a tarde!

Parte II
E a noite vem.
E tua presença me marca ainda mais;
Manchas e feridas deixas em me corpo;
E para o contrário nada fazias.
Minhas entranhas te deixam também confuso.

Parte III
E a madrugada vem.
Nada, ainda, é o que fazes.
E meu olhar já não é o mesmo;
Ele caiu como a noite.
Me assustas e não sei o que faço.
Apenas espero.

Parte IV
Mas a manhã virá
Então te enxotarão!
E tua inimiga então me consolará.
Minhas mãos estarão mais gélidas
E retirarás as manchas que em meu corpo tu fizestes.
Gemerás e irás para sempre
Até que a tarde retorne
E então voltarás.

Parte V
Amanheça!
Apareça para me satisfazer
Ó Sol!

Rosária Cid